ANAIS

ANAIS DO IV SENOMIFOPER - UNIMONTES

22 A 23 DE OUTUBRO DE 2019

SUMÁRIO

A Seicho-no-Ie de Montes Claros - Melissa Veloso

História da fundação e consolidação da Igreja Batista de Montes Claros - Maurício Pereira

O Racionalismo Cristão em Montes Claros - Ramone Cristina Soares Nogueira

As representações sobre o Espiritismo através do jornal "O Lar Católico" de Juiz de Fora (MG) nos anos 20 e 30 - Tamires Pereira de Jesus Souza

Ciências da Religião como instrumento norteador para a prática do estágio curricular supervisionado e do PIBID - Carla Henrique dos Santos Dias

Pensar é falar: Reflexões sobre Ensino Religioso enquanto transposição didática da Ciência da Religião, desafios entre teoria e prática. - Laura Patrícia Aguiar Cardoso

Apontamentos sobre a obra A Queda do Céu: palavras de um xamã yanomami de Davi Kopenawa e B. Albert - Erivelto Alves Fonseca


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A SEICHO-NO-IE DE MONTES CLAROS

Melissa Veloso

O presente trabalho versa em torno de um estudo acerca da Seicho-No-Ie. A Seicho-No-Ie é compreendida como uma religião, todavia, esta se autodeclara disseminadora de um ensinamento de amor e se considera enquanto uma filosofia de vida, uma religião ou ciência da mente. Tem como máxima o entendimento de ser uma supra religião que une a essência de todas as religiões.

Desta forma, a Seicho-No-Ie diz que tudo o que se manifesta é exatamente aquilo que foi plantado na mente afirmando que "para viver feliz" o ser humano precisa conhecer as leis da mente e aplicá-las na vida prática. Para tanto, este estudo delimita o objeto de pesquisa na cidade de Montes Claros, no que diz respeito ao surgimento desta fundação aqui no norte de Minas Gerais, suas práticas, normas, livros sagrados, estruturação, organização e contextualização.

A problemática de pesquisa para este tema se deu uma vez que foi vislumbrado o desejo de ampliar conhecimento sobre a mesma, visto que se faz necessário um estudo sobre as religiões conhecidas como Novas Religiões Japonesas e as motivações pelas quais uma religião tida como filosofia de vida, originada no extremo oriente, ao qual foi fundada no Japão por Masaharu Taniguchi (1893 - 1985) veio se desenvolver e ramificar no Norte de Minas Gerais, cuja cultura local em termos de religiosidade versa por uma base cristã, além de outros vieses religiosos, tendo em vista a mestiçagem cultural e religiosa da região.

Para tanto, o trabalho discorreu inicialmente por bibliografias internas da Seicho-No-Ie, de estudiosos das religiões orientais, da Ciência da Religião e na pesquisa "in loco" de campo. Assim os resultados foram extraídos na fonte empírica, o que possibilitou o desenvolvimento do mesmo, culminando nos resultados aqui apresentados, dando respostas à nossas hipóteses iniciais.

Palavras-chave: Seicho-No-Ie. Religião. Filosofia de Vida. Novas Religiões Japonesas.

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HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO E AFIRMAÇÃO DA PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE MONTES CLAROS

Maurício Pereira Alves

Introdução:

O presente trabalho tem como proposta apresentar o surgimento da Primeira Igreja Batista de Montes Claros - MG durante os anos (1914 - 1954) bem como, alguns aspectos relevantes de seu desenvolvimento culminando na construção de seu novo templo, e na auto identificação de seus membros. Lembrando que a igreja batista que aqui faço menção pertence a primeira denominação batista relacionadas as igrejas históricas que chegou ao Brasil. Tendo suas origens na Inglaterra do século VII.

Numa linguagem metafórica ela é a mãe que inspira a fundação de todas as demais igrejas batistas que a sucederam a partir de suas quinze filhas, por ela própria gerada. O seu valor transcende o aspecto da expansão histórica de uma denominação religiosa. A sua importância recai também sobre a vida social, e política da cidade de Montes Claros e região.

A Primeira Igreja Batista de Montes Claros embrenhou-se nos mais diversos setores da sociedade norte - mineira, influenciando o desenvolvimento político social e econômico, e amoldando-se culturalmente sob os traços de uma identidade norte mineira, sem, contudo, comprometer sua essência marcadamente estadunidense.

Objetivo:

Conhecer a origem e o processo de construção da Primeira Igreja Batista de Montes Claros-MG.

Metodologia:

A pesquisa terá como metodologia principal a História Oral, como fontes para a compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens, entrevistas e outros recursos que possibilitam o desfecho dessa construção. Com o fim de produzir um arcabouço confiável na elaboração deste trabalho a serem contemplados pelos sujeitos afins.

Resultados e Discussões:

Para se firmar enquanto instituição religiosa no norte de minas, nos idos de 1918, onde presume-se o cristianismo católico era majoritário[1],em um contexto de tradições culturais cristalizadas necessárias foram algumas estratégias para que fossem bem recebidos pela população, vencendo as resistências e ganhando a simpatia de um público hegemonicamente católico em seus pré-conceitos religiosos. Estratégias claramente vistas como em uma de suas filhas na situada na cidade de Cristália na construção de ambulatório para atender a população carente, além de um comércio de cerâmica para dar emprego ao povo. Já em Montes Claros a igreja batista investiu na Educação, mantendo sua linha de visão de reino que a acompanha desde sua origem.

Os batistas vêem-se como portadores das boas-novas de salvação, em obediência à uma ordem expressa de Jesus Cristo, constante no livro de Mateus capítulo 28, versos 16-20.. Inúmeras foram às dificuldades que este grupo religioso encontrou em sua trajetória. Mas ainda assim firmou-se com certa fluidez considerando que a cada membro influente que se convertia à nova religião, trazia consigo outros possíveis membros sobre os quais exercia autoridade. Mesmo diante de perseguições acirradas promovidas pelo clero católico e autoridades civis sob sua influencia, digo, (catolicismo), como foi o caso do delegado da época, que quis encerrar na prisão o evangelista Domingos de Novaes, (primeiro batista que introduziu a missão em Montes Claros) na tentativa de fazê-lo parar de pregar o evangelho no Mercado Central. Conforme relatos colhidos.

Conclusão:

Com esse trabalho, mostramos como se dá o processo longo e porque não dizer árduo, pelo qual passa a história de implantação de uma identidade religiosa seja ela de qualquer origem confessional. Aqui no caso a denominação batista que na sua missão encontra um ambiente de resistência até a sua consolidação definitiva.

E nesse processo constatarmos as perdas e ganhos de valores constitutivos de sua identidade original, que às vezes se fazem necessários aos fins propostos para o cumprimento de sua missão, como dantes já dito, tem um caráter divino, assim considerado pelos seus dirigentes e fiéis.

Referências:

SILVEIRA,Herlinda. 1ª Igreja Batista de Montes Claros, MG. Dados Históricos

LEONARD, Émile - G, O - O Protestantismo Brasileiro. Estudo de eclesiologia e de História Social

UM POUCO DA HISTÓRIA DOS BATISTAS https://www.isaltino.com.br/2009/11/um-pouco-da-historia-dos-batistas/ Acesso em 18 de Julho de 2019

O QUE É HISTÓRIA ORAL https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral

O BATISTA MINEIRO. Rangel Herval Silva Dia da Educação. Rio de Janeiro, ano VII, n.10, out. 1926. P. 1 - (CMCBM)

J.M. CARROLL - Rastro de Sangue -Pg.11 Edição em Letra Grande 2007.

A reinvenção do protestantismo: reformado no Brasil. Zwinglio Mota Dias. São Paulo 2017. Fonte Editorial

REILY, Duncan Alexander, História Documental do Protestantismo no Brasil- 3ª edição revisada pelo autor - Aste São Paulo 2003

PEREIRA, J.R. Uma Breve História dos Batistas - Casa Publicadora Batista - Rio de Janeiro 2ª edição 1979

HARRISON, Helen Bagby. Os Bagby do Brasil: uma contribuição para o estudo dos primórdios batistas em terras brasileiras. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987. (Biblioteca SEBEMGE)

MENDONÇA, Antônio Gouvêa - O Protestantismo no Brasil. Um Caso de Cultura e Religião. REVISTA USP, São Paulo, n. 74, p.160-173, junho/agosto 2007.

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APONTAMENTOS SOBRE O RACIONALIMO CRISTÃO NA CIDADE DE MONTES CLAROS/MG

Ramone Cristina Soares Nogueira

A presente pesquisa tem como objetivo analisar a fundação e a história do Racionalismo Cristão em Montes Claros, Minas Gerais, assim como a atuação dos seus membros e adeptos.

A partir do anseio de conhecer aspectos sobre a história do Racionalismo Cristão nessa cidade, levantamos o seguinte problema: qual a história do racionalismo cristão em Montes Claros? Para entender tal questão, definimos como objeto da nossa pesquisa o definimos como objeto da nossa pesquisa o Racionalismo Cristão na cidade de Montes Claros, Minas Gerais.

No referencial teórico utilizamos autores que descrevem de forma específica e detalhada as práticas, processos, métodos e instrumentos empregados pelas Casas Racionalistas Cristãs.

A metodologia empregada é com base na pesquisa exploratória de cunho bibliográfico. A pesquisa foi realizada a partir de referências teóricas e documentais, o que possibilitou discorrer sobre o objeto proposto.

As fontes utilizadas constituem-se de endereços eletrônicos, Ata de Reunião Mensal do Diretório e Junta Cooperativa da Filial de Montes Claros, bibliografias sobre o tema, monografia, e entrevistas com membros do Racionalismo Cristão de Montes Claros. Nesse sentido, procuramos fazer uma análise dos aspectos históricos, mas também da atuação do Racionalismo Cristão, sob a perspectiva e conceitos das Ciências da Religião.

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AS REPRESENTAÇÕES ELABORADAS ACERCA DO ESPIRITISMO NAS DÉCADAS DE 1920/30 PELO JORNAL O LAR CATHOLICO

Tamires Pereira de Jesus Souza

O presente trabalho expõe resultados de pesquisa realizada no curso de Ciências da Religião da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), intitulada "As representações elaboradas acerca do Espiritismo nas décadas de 1920/30 pelo jornal O Lar Catholico".

O principal objetivo do trabalho é examinar como o jornal O Lar Catholico: Revista Social, Religiosa, Dedicada às Famílias (MG) 1891 - 1957, concebia o espiritismo e quais enunciados eram formulados por esse jornal sobre o espiritismo nas décadas de 1920 e 1930. Neste período surgiu o movimento eclesiástico conhecido como Restauração Católica, sendo que um dos principais objetivos deste movimento era reaproximar o Estado, tornado laico após a Constituição de 1891, da Igreja Católica. Para isso, combater as demais religiões que surgiam nos seguimentos sociais também era preciso, entre elas está o Espiritismo.

É fundamental esclarecer que não é intenção apresentar o periódico como realidade una para assimilar as relações estabelecidas entre Igreja Católica e o Espiritismo na cidade de Juiz de Fora pelo periódico, mas, analisar as representações do jornal supracitado, que podem corresponder às concepções próximas às da Restauração Católica. Neste trabalho, o conceito de representações sociais utilizado para análise das edições foi elaboradopelo psicólogo social, Serge Moscovici (2007).

Palavras-chave: Restauração Católica. Espiritismo. Representações. O Lar Catholico.

Referências:

ARDUINI, Guilherme Ramalho. Os Soldados de Roma Contra Moscou: a Atuação do Centro Dom Vital no Cenário Político e Cultural Brasileiro (Rio de Janeiro, 1922-1948). São Paulo: USP, tese de doutorado, 2014.

ARRIBAS, Célia da Graça. Espíritas de todo o Brasil, uni-vos! Meandros da Unificação Espírita na Primeira Metade do Século XX. Religião & Sociedade, vol. 37 nº 3, Rio de Janeiro, dezembro, 2017.

AZZI, Riolando. O Início da Restauração Católica no Brasil: 1920-1930. Síntese: Revista de Filosofia, v. 4, n. 10, 2013.

_____________ O Fortalecimento da Restauração Católica no Brasil (1930-1940). Síntese: Revista de Filosofia, v. 6, n. 17, 2013.

______________ O Início da Restauração Católica em Minas Gerais: 1920-1930. Síntese: Revista de Filosofia, v. 5, n. 14, 2013.

COSTA, Flamarion Laba da. Onde o Diabo Agia na Sociedade Brasileira Segundo a Igreja Católica na Primeira Metade do Século XX. Guarapuava, Paraná. UNICENTRO/UEPG, 2002.

GAZETTA, Felipe Azevedo. Fórmulas Antidemocráticas em Terras Luso-Brasileiras: Análises em torno do Integralismo Lusitano e da Ação Integralista Brasileira (1914-1937). Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Departamento de História, 2016.

GIUMBELLI, Emerson. O Cuidado do Mortos: Uma História da Condenação e Legitimação do Espiritismo. - Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997.

JUNIOR, José Pereira de Sousa. O Processo de Restauração Católica no Brasil na Primeira República. Mato Grosso do Sul: UFMS, Fato & Versões-Revista de História, v. 7, n. 14, 2015.

LIMA, Marcelo Ayres Camurça. Espiritismo e Nova Era: interpelações ao cristianismo histórico/Marcelo Camurça. - Aparecida, SP: Editora Santuário, 2014. - (Cultura e religião).

_______________ Fora da Caridade não há Religião! Breve História da Competição Religiosa entre Catolicismo e Espiritismo Kardecista e de suas Obras Sociais na Cidade de Juiz de Fora: 1900-1960. II Simpósio Nacional de História das Religiões, Grupo de Pesquisas "Religiões afro-brasileiras e Kardecismo", Mariana - Minas Gerais, 2000.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: Investigações e Psicologia Social/ Serge Moscovici: editado em inglês por Gerard Duveen: traduzido do inglês por Pedrinho A. Guareschi. - 5º edição. Petrópolis - RJ: Vozes, 2007.

PRANDI, Reginaldo. Os Mortos e os Vivos: Uma Introdução ao Espiritismo. - São Paulo: Três Estrelas, 2012.

Fontes:

Jornal O Lar Catholico: revista social, religiosa, dedicada as famílias (MG) 1891 a 1957.(edições dos anos de 1920 a 1930).

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CIÊNCIAS DA RELIGIÃO COMO INSTRUMENTO NORTEADOR PARA A PRÁTICA DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO E DO PIBID

Carla Henrique dos Santos Dias

O presente trabalho pode ser identificado como relato de experiência, e tem como objetivo refletir sobre articulação entre a Ciência(s) da Religião e o Ensino Religioso em sala de aula, sendo a primeira a base necessária para a prática do Ensino Religioso. No caso deste trabalho, compreendemos a Ciência(s) da Religião como fundamentação indispensável para a realização do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Ciências da Religião e do PIBID (Programa Institucional de Bolsa à Iniciação à Docência) de Ciências da Religião.

Para tanto, faremos uso de trabalhos de alguns pesquisadores da área da Ciência(s) da Religião que escrevem sobre a imprescindível relação entre a Ciência(s) da Religião e o Ensino Religioso. Os relatos analisados neste trabalho são resultados de dois projetos desenvolvidos em escolas estaduais na cidade de Montes Claros, sendo um dos projetos desenvolvido no PIBID, e o outro desenvolvido durante o Estágio Curricular Supervisionado do Curso de Licenciatura em Ciências da Religião.

A motivação para o desenvolvimento desse trabalho veio de uma frase muito usada pelo professor Heiberle, coordenador do Curso de Ciências da Religião: "ocupe bem o lugar que você conquistou, se não outro o fará por você". O professor usou essa frase em uma de suas palestras, para se referir ao trabalho do Ensino Religioso nas escolas.

A partir da fala do professor supracitado tivemos inquietações relacionadas à relevância do papel do professor de Ensino Religioso na sala de aula, e à importância desse professor para ocupar o seu espaço como mediador na construção de conhecimentos sobre as religiões e conceitos que as envolvem. Dessas inquietações, surgiu uma importante indagação: como "ocupar bem" esse espaço conquistado pelo Ensino Religioso depois de tantos anos de luta pela consolidação dessa disciplina na escola?

Por entender que o conhecimento, a capacitação específica, e o prazer de "ensinar" são instrumentos eficazes no exercício do Ensino Religioso, vejo que cabe ao docente dessa área do conhecimento, na sala de aula, arriscar em inovações didático-pedagógicas, consciente de que o papel dessa disciplina, ao ensinar sobre as diversas religiões, é construir o respeito a diversidade cultural e religiosa para o exercício da alteridade e cidadania plena.

A importância do tema se justifica frente à necessidade do Ensino Religioso ser visto pelos alunos e alunas como uma disciplina tão importante como as demais. Incentivar os alunos e as alunas a participarem das aulas de Ensino Religioso de modo que a professora e o professor possam conciliar teoria (conhecimentos adquiridos na universidade) e prática (Ensino Religioso na sala de aula) através de metodologias lúdicas e inovadoras a partir da realidade do aluno. Além disso, é importante mostrar que a responsabilidade e compromisso do docente de Ensino Religioso na realização do seu trabalho, são elementos imprescindíveis para a formação do cidadão, e do relacionamento do mesmo com a cultura e a sociedade, a fim de mediar à construção da identidade religiosa e respeito ao outro, de acordo com a proposta da BNCC de ER e dos PCNs de Ensino Religioso. Almejando uma sociedade consciente de que sua pluralidade cultural e diversidade religiosa são qualidades para construção de um mundo melhor, com menos preconceitos, discriminações ou racismos.

PENSAR É FALAR: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO RELIGIOSO ENQUANTO TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DA CIÊNCIA DA RELIGIÃO, A PARTIR DE COMPARTILHAMENTO DE AULAS EM REDER SOCIAIS

Laura Patrícia Aguiar Cardoso

Introdução

Este trabalho tem sua origem no pensar o Ensino Religioso no modelo da Ciência da religião pelo viés da transposição didática. Assim, Pensar é falar: Reflexões sobre Ensino Religioso enquanto transposição didática da Ciência da Religião, desafios entre teoria e prática, surge como um questionamento filosófico a partir da leitura de Jean Francois Lyotard, onde esse autor traz sobre o pensamento e fala filosófica. Segundo Lyotard pensar é falar. Desse eixo teórico pensamos sobre a problematização desse trabalho. Quais os desafios que professores de Ensino Religioso enfrentam para transpor o conhecimento? Por que a maioria do professores ainda não consegue fazer a transposição entre o conhecimento cientifico e o conhecimento escolar, tendo em vista que o curso de Ciências da Religião na região é um curso de licenciatura?

Pensamos e falamos do Ensino Religioso e a transposição do conhecimento cientifico para o conhecimento escolar partindo da observação das aulas compartilhadas em grupos de redes sociais e email disponibilizado por professores de Ensino Religioso de Minas Gerais. Para tanto objetivamos verificar se essas aulas e atividades compartilhadas condizem com o conceito de transposição didática, proposto e se estas aulas estão em consonância com o modelo das Ciências da Religião.

Nesse sentido, pode-se dizer que o estudo da transposição didática nas Ciências da Religião, refere-se ao fornecimento de explicações sobre o caminho realizado pelo saber desde sua elaboração científica até sua chegada em sala de aula como saber ensinado. Esse processo tem se mostrado transformador da prática docente pelo fato de colocar o professor numa situação privilegiada, que lhe permite ver o processo ensino-aprendizagem segundo um ponto de vista externo ao seu ambiente habitual. Mesmo em breve reflexão, pois a transposição didática nas Ciências da Religião, objetivando o Ensino religioso ainda deixa extensas lacunas para estudo e poderão conferir ao Ensino religioso, se realizada, alicerces sólidos nas Ciências da religião.

Metodologia

O método que utilizamos é o qualitativo, para análise e interpretação de materiais didáticos dispostos em redes e emails de professores. A pesquisa busca obter dados que expressam os sentidos a cerca da transposição didática da Ciência da Religião para o Ensino Religioso e para tanto foi desenvolvida em consonância com a análise bibliográfica de autores que tratam a transposição didática, (CHEVALLARD, 1991, Oliva (2019), Junqueira (2018).

Resultados

A transposição didática tem como objeto, a transferência do saber do espaço científico para o espaço escolar, uma adequação dos temas científicos para a temática do conhecimento escolar. (CHEVALLARD, 1991). Constitui o melhor instrumento para a conversão da pesquisa e sua aplicação na escola. (COSTA, 2019, p 188).

Nesse sentido o Estudo sobre religião em sua complexidade enquanto epistemologia da CRE enfrenta também esses desafios ao ENSINAR nos cursos de Formação para professores. A questão é: Como construir caminhos para essa transposição.

Chevallard (1991) reflete que a Transposição Didática é feita por uma Instituição 'invisível', uma 'esfera pensante' que ele nomeou de Noosfera, que são influências de documentos da educação, família e estado. Observamos ainda que componentes importantes alicercem o transpor do conhecimento, estes definem os saberes a serem ensinados e com que roupagens devem chegar à sala de aula. O professor como responsável pela transposição didática.

  • O tripé: Saber científico (episteme), saber ensinado (orientações curriculares e parâmetros), saber escolar (livro didático, texto do saber).
  • O ensino Religioso alicerçado ainda sobre os valores e formação humana, não suplanta uma transposição didática no modelo da Ciência da Religião. Segundo os documentos da educação brasileira, lei de diretrizes e bases da educação, os valores são temas transversais que devem perpassar todo currículo educacional, abranger todas as disciplinas. Vem de uma construção histórica/estado/família/educação. Portanto, Não deve ser pauta do ensino religioso. Que deve embasar na construção epistemológica do ER no modelo das CR, (Junqueira).
  • Teoria e pratica- sobre o que falamos?

O curso e a formação de professores e aplicabilidade na sala de aula. Articulação dos temas com o ER. (Junqueira) formação de professores ER, é o que retrata em seu artigo para PUC/SP e corrobora com os resultados desse estudo. Assim postular o ER nos currículos escolares com base na CRE resguarda "o valor teórico, social, político e pedagógico do estudo da religião para a formação do cidadão" (PASSOS, 2017, p. 76), pois, só assim se consegue desembaralhar, na teoria e na sala de aula, a confusão entre educação da religiosidade e educação do cidadão.

Considerações

Consideramos o Ensino religioso na perspectiva que transpõe o conhecimento cientifico para o saber escolar, ainda se prende nos modelos confessionais de valores cristãos ou textos alternativos de educação sócios emocional, não sendo o Ensino religioso construído em sua maioria temáticas que envolvem a diversidade dos fenômenos religiosos e suas interações.

Alguns fatores como a formação de professores e ausência de material didático favorece a carência da Transposição das Ciências da Religião para o Ensino Religioso. E ainda é preciso falar sobre o tema da escola para academia da academia para escola e este é apenas um prevê inicio que pode elencar a qualidade do Ensino Religioso na região.

Referências

CHEVALLARD, Ives. La transposicion didática; Del saber sábio AL saber ensinado. Buenos Aires, 1997.

COSTA, Matheus Oliva. Ciências da Religião aplicada à educação. Cientistas da religião como profissional docente do Ensino Religioso não confessional. PUC, São Paulo. 2019.

JUNQUEIRA, Sergio Rogério Azevedo. Ensino Religioso Transposição didática e estratégias. Plura, revista de estudos da religião. V.9.n.I. Pg. 4-6. 2008.

APONTAMENTOS SOBRE A OBRA A QUEDA DO CÉU: PALAVRAS DE UM XAMÃ YANOMAMI DE DAVI KOPENAWA E BRUCE ALBERT

Erivelto Alves Fonseca

A Queda do Céu, construído pelo Xamã Yanomami Davi Kopenawa está repleto de considerações sobre as visões xamânicas e reflexões sobre os não indígenas. Essa obra não é apenas uma porta de entrada para o universo complexo e revelador; uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami chamam de "povo de mercadoria". Segundo o Xamã Yanomani:

"No inicio o céu era novo e frágil, a floresta era recém chegada a existência, tudo nela retornava facilmente ao caos, moravam nela outras gentes antes de nós que desapareceram. Era, o primeiro tempo, nos quais os ancestrais foram pouco a pouco virando animais de caça e quando o centro do céu finalmente dispencou vários deles foram arremessados para o mundo subterrâneo, as costas deste céu que caiu no primeiro tempo tornaram se a floresta em que vivemos o chão que pisamos, por esse motivo os Yanomami chamam a floresta de Uaru Patamimamose, o velho céu. Depois um outro céu desceu e se fixou acima da terra substituindo o que tinha desabado. Sempre que o céu começa a tremer e ameaça arrebentar, os xamãs enviam sem demora os seus xapiris para reforça-lo. Sem isso o céu já teria desabado de novo há muito tempo". (Davi Kopenawa Yanomami).

Este livro é um manifesto xamânico contra a destruição da floresta Amazônica e também defendido pelo antropólogo brasileiro, Eduardo Viveiros de Castro, o qual esteve muitas vezes na Amazônia com Davi Kopenawa e reforçar a origem mítica e a dinâmica invisível do mundo, além de descrever as características monstruosas da civilização ocidental como um modo muito especial, em um livro sobre nós, dirigido a nós, os brasileiros que não se consideram índios.

Pois com a queda do céu mudam se o nível e os termos do diálogo pobre, esporádico e fortemente desigual entre os povos indígenas e a maioria não indígena de nosso país; e se torna um acontecimento científico incontestável que levará alguns anos para ser devidamente assimilado pela comunidade antropológica.

Nós, temos a obrigação de levar absolutamente a sério o que dizem os índios pela voz de Davi Kopenawa. Por que com a invasão das terras pelos garimpeiros e suas consequências em termos de epidemias, estupros, assassinatos, envenenamento dos rios, esgotamento da caça, destruição das bases materiais e dos fundamentos morais da economia indígena, se sucedem com monótona frequência seguindo a oscilação das cotações do ouro. O sistema de garimpo é semelhante ao narcotráfico, a tática geopolítica do colonialismo em geral é a mesma, o serviço é sujo e feito por homens miseráveis, violentos e desesperados, mas quem financia e controla o dispositivo fica com o lucro e são e salvo fora do front protegido por imunidades das mais diversas.

Por isso, a Queda do Céu é um objeto inédito compósito e complexo que vem em boa hora para mostrar quem verdadeiramente são os Yanomami através de uma biografia de um indivíduo excepcional um sobrevivente indígena que viveu vários anos em contato com os brancos até reincorporar a seu povo e decidir tornar-se xamã para nos mostrar uma nova visão de mundo.

Pelo que podemos observar esta obra etnográfica, perpassa a delegação ontológica e reforçada pela alteridade terá muita coisa a ensinar aos antropólogos e aos outros estudiosos ou hermeneutas das vozes indígenas, seja pelo exemplo dado pela narrativa de Davi, seja sob o modo da reflexão que nos é apresentada nesse postcriptum, Albert vê isso como pacto etnográfico. E esse pacto começa pelo respeito que o antropólogo tem pelo indígena. E Viveiros de Castro reforça este pensamento nos dizendo que o respeito e a imaginação conceitual entre Albert e seus anfitriões não é acidental pois exprime uma concepção antropológica. Por isso podemos afirmar que o convívio dos dois prólogos tem como conclusão que as palavras são de Davi e elas contam o que querem contar assim como diz o subtítulo desta obra e são escritas por Albert sem epigrafar a se mesmo.

Esta ressalva parece extremamente importante; não basta compadecer da sorte do colonizado, não é suficiente mostrar generosas disposições para com o nativo assim como aconteceu em 1989 onde o ministro da casa militar no dia do índio em um diálogo com Davi, disse com aquele tom arrogante e de soberania.

-Sua gente gostaria de receber informações de como cultivar a terra?

O impávido Xamã Replica.

-Não, queremos a demarcação de nosso território.

A verdade é que nenhum autor radical conseguiu abrir uma fenda na muralha dialógica entre índios e brancos que a Queda do Céu teve a capacidade de abrir. É evidente que a formação de Albert, sua curiosidade intelectual é responsável pela sintonização do ouvido do antropólogo para com Davi, coproduziu um discurso que vai muito além da denúncia e da lamentação, pois a condenação irrevogável do narrador sobre o que se pode esperar de nossa civilização é precedida de uma ampla exposição filosófica dos fundamentos de um mundo indígena, em seu triplo aspecto ontológico, cosmológico e antropológico. Que o engajamento vital com os yanomamis se registre, traduzindo em um dos trabalhos de campo de mais longa duração na história da etnilogia amazônica.

Esse manifesto xamânico libelo contra a destruição da Floresta Amazônica revela que, o indígena não quer ser tolerado, mas sim respeitado os usos, costumes e tradições das comunidades indígenas e seus efeitos, nas relações de família, na ordem de sucessão, no respeito as terras indígenas, nos atos ou nas relações entre indígenas. 

Referência

Kopenawa, Albert, Bruce, Davi. A Queda do Céu, Palavras de um Xamã Yanomami/ Davi Kopenawa e Bruce Albert; Tradução Beatriz Perrone-Moisés; prefácio Eduardo Viveiros de Castro - 1°ed. - São Paulo: Companhia das letras; 2015.



Apoio: UNIMONTES * Pastoral de Educação, Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da Arquidiocese de Montes Claros * PIDIB-Filosofia * GEIPI-ABA- Grupo de Estudos Interdisciplinas com Povos Indígenas da Unimontes   
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